Cultura

02/01/2020 21:53

Festas no Quilombo Mutuca - Cultura / Gilda Portella

Caderno Cultura I Gilda Portella

A ideia de escrever um livro sobre as mulheres do quilombo Ribeirão de Mutuca partiu das próprias quilombolas como forma de fechamento de um curso ministrado pelo Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Comunicação e Arte, GPEA, do Instituto de Educação da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) entre os meses de agosto a novembro de 2016, em meio ao doutoramento de duas pesquisadoras: Giseli Dalla Nora e Rosana Manfrinate. O livro traduz as narrativas das mulheres sobre sua história, sua a memória coletiva, o aprendizado delas ao longo de sua vivência.  A comunidade é narrada pelos seus olhares, suas identidades, sua cultura, entremeados no livro pelas reflexões das teorias da Educação Ambiental e da Justiça Climática tecidas no GPEA.  Encontra-se neste estudo o que ser mulher no quilombo, sua relação com a natureza nas curas, orações, culinária e no calendário de festas da comunidade. Partilha de conhecimento e saberes, partilhas de sonhos e imaginário.  O livro apresenta uma partilha da academia e da comunidade quilombola. Todas as participantes do curso são autoras do livro, um total de 39 pessoas.

 As festas tem um planejamento, contendo sua preparação, como convidam as pessoas, como arrecadam os donativos e o desenvolvimento nos dias das festas, pois envolvem muitos convidados e onde todos recebem o convite para o próximo ano.  As mulheres quilombolas nos revelaram pela oralidade 18 festas ao longo dos 12 meses do ano, onde destacam com mais detalhes quatro festas para o livro.  As festas são motivos para vários estudos e o GPEA tem pesquisas como a realizada por uma das coordenadora do curso,  Lucia Shiguemi Isawa Kawahara, que mapeou em sua tese o calendário cíclico de festas em São Pedro de Joselândia que envolve todo o Distrito de mesmo nome, no município de Barão de Melgaço, Mato Grosso.  Com este estudo como guia, as mulheres de Mutuca foram relatando e escrevendo sobre as festas na comunidade que envolvem pessoas não só do Quilombo, mas de todo o município de Nossa Senhora do Livramento, de Poconé, de Várzea Grande, de Acorizal, de Rosário Oeste e de Cuiabá.  As festas durante o ano são, na sua maioria, religiosas, oriundas de promessa aos santos, mantidas pelas famílias em agradecimento à graça recebida. Tem rezas, cantorias, missas e em homenagem aos santos as danças do Cururu e do Siriri. 

Assim, uma dessas festas destacadas por elas no livro é a de São Benedito e de São Gonçalo, realizado na casa de Dona Maria Renata de Jesus,  que por ocasião do dia de São Gonçalo é comemorado em janeiro, sendo que 2020 estão convidando para o dia 26/01. É uma festa onde podemos conhecer o ser quilombola, os respeitos à ancestralidade, à gratidão divina e à natureza pela saúde e graças alcançadas.  Tem as tradicionais comidas do quilombo, bem como o cururu e a dança de São Gonçalo. É festa, é dádiva recebida, comemorado com graça e devoção, e alegrias.  É a comunidade negra abrindo sua casa para comemorar sua história.

O livro “As Fazedoras de Saberes: Diálogos das Mulheres Quilombolas do Mutuca com a Educação Ambiental, Gênero e Justiça Climática”, organizado pelas autoras do GPEA, Giseli Dalla Nora, Rosana Manfrinate, Denize Aparecida Rodrigues de Amorim, Cássia Fabiane dos Santos Souza, Lucia Shiguemi Isawa Kawahara e Michèle Sato, foi publicado pela Editora Appris.  Foi lançado pela primeira vez em agosto do ano passado no barracão da Associação da comunidade Ribeirão do Mutuca e em novembro do mesmo ano, na Roda de Conversa “Mulheres Negras Inspiram”, coordenado pelo Fórum de Mulheres Negras de Mato Grosso, em Cuiabá.  O exemplar pode ser adquirido por compra em vários sites de vendas na internet.  Incentivamos a Comunidade Quilombola Ribeirão do Mutuca ir descrevendo, fotografando, filmando, narrando cada uma de suas festas, sendo uma história contada por ela às novas gerações e para ser amplamente divulgada sua cultura e identidade.

Denize Aparecida Rodrigues de Amorim, doutorando em Educação, pela UFMT.


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