Cidades

26/12/2023 14:19

Folia de Santo Reis

Os foliões vão de casa em casa ou comércio, tocando, cantando, entoando orações em forma de canções ritmadas ao som das flautas de pífano, gaita, zabumba, caixa pequena, pandeiros meia lua, reco-reco e na mão da dona Edwirges Machado segue a bandeira enfeitada com fitas coloridas, da Folia dos Santos Reis, a representação iconografica da visita dos três Reis Magos ao menino Jesus na manjedoura.

A pequena caravana não têm camelos, nem reis coroados, mas levam cânticos de sabedoria, alegria e amor. As devoções musicadas com fé e inspirações poéticas dão sabor, ao colorido performático onde devotos e foliões experimentam a força e o êxtase que os conduz na jornada tradicional de 13 de dezembro até seis de janeiro, numa folclórica celebração do nascimento do menino Jesus.

A riqueza das práticas e das representações culturais e religiosas demanda que os foliões expressem suas sensibilidades devocionais com o corpo. O seu corpo é a matéria viva que pulsa, respira, transpira, ajoelha e levanta, emocionado, canta e reza e assim estabelece relações com a comunidade do vale do rio Araguaia, com a identidade cultural, religiosa e com a memória coletiva.

A festa popular folclórica da região do Vale do rio Araguaia e região esse ano começou aos 13 de dezembro em Guiratinga-MT, o festeiro, o mestre Seu Raul Araújo organizou a locação do ônibus, com recurso próprio, definiu o percurso, as datas, as paradas que a louvação da folia do Santos Reis iria fazer.

Manoel Lima dos Reis um dos gaiteiros, tocador do pandeiro meia lua, empresta sua voz a entoar os cânticos, explica as atividades deste ano: “Nós saímos com a folia do Santo, dia 13 de Guiratinga-MT, para Rondonópolis-MT, dali voltamos pra Guiratinga. Percorremos a cidade, e no retorno passamos em Alcantilado e no Ranulfo. Hoje, estamos terminando a visitação em Torixoréu-MT e Baliza-GO. Daqui vamos ao Pontal do Araguaia-MT e Aragarças no Goiás e então chegaremos a Barra do Garças-MT, onde estaremos tocando até o dia de Santos Reis, em seis de janeiro do ano novo. Esta a nossa missão."

O devoto e folião Claudinei Alves, 47 anos, toca flauta de pífano na folia desde os sete anos de idade, quando começou aprender as musicas sagradas e ancestrais, anunciadas com fogos de artifício que criam uma atmosfera emocionante e contagiante.

Os olhos do mestre "Seu Raul" brilham vibrando amor e emoção ao falar das dificuldades financeiras enfrentadas para manter essa tradição, mas com uma voz firme e confiante, já planeja o percurso da folia do próximo ano. O clima sagrado e profano envolve a todos que irmanados em único sentimento de fraternidade e devoção aos Santos Reis. Finaliza dizendo que enquanto tiver força, e estiver de pé fará a Folia. O mestre Raul Araújo é acompanhado pela esposa Edwirges Machado na execução da festa de religiosidade e manifestação cultural. Já se vão quase 60 anos de devoção à folia dos Santos Reis que se perpetua revivendo seus costumes e crenças religiosas, exibindo a identidade cultural e a memória coletiva.

A Bandeira com a Folia dos Santos Reis percorrerá a região entre as cidades do Pontal do Araguaia-MT, Aragarças-GO e Barra do Garças-MT, visitando as famílias nos dois Estados. A festividade os cânticos aos Santos Reis, tem o recolhimento de donativos, com o qual se fará a festa em seis de Janeiro na cidade de Barra do Garças. Ali haverá um jantar distribuído gratuitamente a todos os devotos e foliões que comparecem.

Segundo Douglas Cunegundes, 19 anos, um dos mais jovem, que acompanha a folia desde sempre, mas só aprendeu a tocar caixinha há três anos, informa que: "Chico Neves- toca flauta pífano; Regina Neves toca pandeiro meia lua; Claudinei Alves toca flauta pífano; Sinésio e o gaiteiro, canta e bate caixinha; Manoel Lima dos Reis e o gaiteiro e quem puxa as músicas; Ariston Lima é o bumbeiro; Tiago Nunes bate caixinha; Raul Araújo é o festeiro, toca reco-reco; Edwirges Machado carrega a bandeira, toca pandeiro meia lua; Osvaldo Batista bate caixinha; Juarez Pires é o palhaço.

Estudiosos da cultura popular dizem que os foliões são especialistas populares que reconstroem, readaptam, resignificam as representações, as apropriações e praticas da dinâmica da vida na cidade. Manifestam a fé através de rituais que incluem expressões musicais, performances e plásticas, constituindo-se em importante recurso da historia cultural e das religiões, com transmissão oral e do patrimônio imaterial brasileiro que deve ser salvaguardado pelos órgãos oficiais (municipal, estadual ou federal) e também pela comunidade local, verdadeira detentora do saber e da qual depende a efetiva pratica pela transmissão para as futuras gerações. “Sentimos falta de gente jovem, que queira aprender a tocar, cantar, comemorar esta tradição que nos honra e nos conduz a levar fé e esperança nas casas que visitamos em memória de Jesus e dos três reis magos, que formaram o presépio do seu nascimento.” Relata Dionildo Campos um acompanhante da folia


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